pós-graduação

Olhares condenatórios, comentários maldosos, expressões negativas. Qual a mãe que ao amamentar o filho em um local público ou com grande circulação de pessoas não passou por situações de constrangimento? Mesmo protegidas no Brasil por uma lei que prevê multa para quem impedir esse momento tão importante, muitas mulheres ainda sofrem com comportamentos de quem ainda não percebe o ato como algo natural no cotidiano materno. Pensando nessa realidade a Universidade Católica de Pelotas (UCPel), lança neste Agosto Dourado – mês dedicado à estimular a amamentação, o projeto “ Elas têm vez, voz e aconchego na UCPel”. A proposta quer começar pela comunidade acadêmica a defesa pela amamentação em todos os espaços, inclusive no ambiente universitário.

A ideia une os cursos de Psicologia e Publicidade e Propaganda, além de ter ligação com o projeto de extensão Aconchego da Odontologia da Católica, e é baseada nas vivências dos alunos. A coordenadora do “Elas têm vez, voz e aconchego na UCPel” e professora da Psicologia, Lúcia Grigoletti, explica que devido a pandemia do coronavírus, a ação irá focar, primeiro, na mobilização de estudantes, professores e funcionários da instituição de forma virtual. “Não estamos estimulando que as mulheres se exponham em espaço públicos nesse momento, mas queremos preparar a todos para quando isso for possível, começando “dentro de casa”, na vivência universitária”, explica Grigoletti ao lembrar que já presenciou muitas mulheres deixando o local em que estavam para amamentarem os filhos.

Temas de atuação

Elaborada antes da pandemia, a ação irá incentivar a reflexão sobre o direito da amamentação em público no perfil do Projeto Aconchego no Instagram. O conteúdo publicado na rede social deverá abordar quatro temas conectados com a amamentação em locais com circulação de pessoas: legislação, social, sexualidade e participação do parceiro. ”Vamos questionar porque um seio exposto em um contexto sexual é aceito e na amamentação é alvo de muitas censuras”, frisa a professora.

As postagens estão sendo criadas por alunos dos dois cursos, com a supervisão das professoras Lúcia Grigoletti, da Psicologia,  e Cristina da Porciúncula, da Comunicação, que é a mentora da iniciativa. Alguns egressos da Psicologia mantém a atuação, como é o caso da recém-graduada Camila Porto. “Estamos trabalhando para que as mulheres se sintam acolhidas e respeitadas, para vivenciarem a maternidade em qualquer lugar”. 

Consequências psicológicas

Uma pesquisa realizada no Reino Unido em 2019 pela empresa Tommee Tippee, mesmo ano em que foi criada a lei que prevê multa para pessoas que impedirem mães de amamentarem em espaços públicos no Brasil, apontou que 62% das mulheres já sofreram com olhares estranhos, 27% foram convidadas a deixar o local e 8% ouviram comentários obscenos durante a amamentação. Segundo a professora Lúcia, interromper o aleitamento materno ou promover comportamentos capazes de constranger a mãe, podem resultar em várias consequências psicológicas, começando pela redução da espontaneidade da mulher em atender uma necessidade da criança. “ Não precisa ocorrer a retirada da mulher do local para gerar o desconforto, mas um olhar, mesmo que sutil, já pode ocasionar o sentimento de culpa, vergonha, e prejudicar um momento tão importante entre mãe e filho”, conclui a docente da UCPel.

 

Redação: Alessandra Senna